Não há verdade única morando dentro dos prismas do que existe, pois existir é ser múltiplo, o que quer que exista: de um dinossauro a uma flor no nosso jardim. O que olhamos não se deixa empobrecer pela unicidade que tentamos imprimir àquilo que vemos. Por felicidade e pela mão divina que trazemos em nós nada será único, de um lado só, porque tudo carece o outro lado, a simetria perfeita ou imperfeita haverá de nos mostrar o lado feminino no homem, o lado arrebatador das enchentes e marés. De momentos de pura inspiração e de sintonia com tudo o que existe extrairemos dos extremos o caminho do meio, aquilo que não se define como dentro ou fora, claro ou escuro, bem ou mal; ao contrário do que imaginamos não procuramos a definição deste ou daquele lado, mas procuramos o que não temos palavras para definir, procuramos o que está entre, na travessia, como observou Guimarães Rosa.
É no caminho do meio, na travessia que escrevi(o) estas palavras, na busca de evitar as classificações exatas, mas justamente tentando encontrar algo residente no desafio das palavras que dançam na minha frente, querendo me mostrar que elas precisam sair, precisam ser decifradas para que eu possa viver o que quero viver, e isso só vai acontecer se as palavras saírem. É perigoso brincar com as palavras, é perigoso estar à espreita das palavras. Se “no princípio era o verbo” quando não estávamos aqui, as palavras já estavam. Vamos juntos vivendo todos esses anos rodeados de palavras, e se procuro agora estar a dizê-las é porque não eu – mas elas – têm coragem de vir a ser. Existe algo fora da linguagem?
Fora das questões eternas da linguagem e das palavras volto a querer agora a minha fala; é que vez por outra brigo para que as palavras me deixem em paz, para que não me tomem o que estou a ponto de. Estas reflexões que quero suscitar agora não são, talvez, só minhas, muito provavelmente elas hão de encontrar outras idéias e outras pessoas no meio do caminho que existe (porque o que existe está no meio do caminho) entre estas páginas e seus olhos que agora me vêem mais do que eu sozinha. Eu preciso compartilhar isso para que isso passe a existir no meio do caminho. Para que o outro me ajude a ser eu mesma e para que eu ajude ao outro a ser quem é.
Só com a ajuda das palavras seremos capazes de alcançar as dimensões do que ainda não existe porque ainda não foi dito. Tudo o que passa a existir tem um nome e tudo que ainda não existe é porque ainda não foi dito. Há muito que se dizer porque estamos engatinhando na infância de ser. Quando crianças, fomos tecendo nosso ser por intermédio dos outros e das palavras e, num processo de auto-descoberta, redescoberta e invenção, fomos nos deixando penetrar pela linguagem. Até agora não há verdade única a respeito de como aprendemos a falar. E esse é o mistério. O mistério é que não nos pertencem essas questões. Às crianças são dados a chave e o segredo para que aprendam e para que não passem adiante o grande mistério das palavras. Porque se nos tornamos adultos e não nos lembramos deste mistério, pois que podemos usar palavras à vontade, brincar com elas, fazer arte com elas, mas nunca saber quando começamos e porque e como começamos a fazer uso das palavras. E como jamais nos apartaremos delas.
Adão e Eva saíram do paraíso e perderam a inocência. Perdemos nossa inocência e também o segredo de quando e como aprendemos falar. Digo pela brincadeira da literatura que Deus tirou Adão e Eva do paraíso porque passaram a saber, enquanto nós passamos a não saber, para que as palavras continuem puras, imaculadas, ou pelo menos para que nunca manipulemos o segredo. Mas como o ser humano sempre estar a abrir a caixa de Pandora conseguimos tirar o leite das palavras para fazer literatura. Como as palavras também estão para o homem, vão, elas mesmas, construindo tudo o que existe e nos usam, infantis que são, para que o verbo nunca deixe de existir. No princípio e para sempre será o verbo.
É no caminho do meio, na travessia que escrevi(o) estas palavras, na busca de evitar as classificações exatas, mas justamente tentando encontrar algo residente no desafio das palavras que dançam na minha frente, querendo me mostrar que elas precisam sair, precisam ser decifradas para que eu possa viver o que quero viver, e isso só vai acontecer se as palavras saírem. É perigoso brincar com as palavras, é perigoso estar à espreita das palavras. Se “no princípio era o verbo” quando não estávamos aqui, as palavras já estavam. Vamos juntos vivendo todos esses anos rodeados de palavras, e se procuro agora estar a dizê-las é porque não eu – mas elas – têm coragem de vir a ser. Existe algo fora da linguagem?
Fora das questões eternas da linguagem e das palavras volto a querer agora a minha fala; é que vez por outra brigo para que as palavras me deixem em paz, para que não me tomem o que estou a ponto de. Estas reflexões que quero suscitar agora não são, talvez, só minhas, muito provavelmente elas hão de encontrar outras idéias e outras pessoas no meio do caminho que existe (porque o que existe está no meio do caminho) entre estas páginas e seus olhos que agora me vêem mais do que eu sozinha. Eu preciso compartilhar isso para que isso passe a existir no meio do caminho. Para que o outro me ajude a ser eu mesma e para que eu ajude ao outro a ser quem é.
Só com a ajuda das palavras seremos capazes de alcançar as dimensões do que ainda não existe porque ainda não foi dito. Tudo o que passa a existir tem um nome e tudo que ainda não existe é porque ainda não foi dito. Há muito que se dizer porque estamos engatinhando na infância de ser. Quando crianças, fomos tecendo nosso ser por intermédio dos outros e das palavras e, num processo de auto-descoberta, redescoberta e invenção, fomos nos deixando penetrar pela linguagem. Até agora não há verdade única a respeito de como aprendemos a falar. E esse é o mistério. O mistério é que não nos pertencem essas questões. Às crianças são dados a chave e o segredo para que aprendam e para que não passem adiante o grande mistério das palavras. Porque se nos tornamos adultos e não nos lembramos deste mistério, pois que podemos usar palavras à vontade, brincar com elas, fazer arte com elas, mas nunca saber quando começamos e porque e como começamos a fazer uso das palavras. E como jamais nos apartaremos delas.
Adão e Eva saíram do paraíso e perderam a inocência. Perdemos nossa inocência e também o segredo de quando e como aprendemos falar. Digo pela brincadeira da literatura que Deus tirou Adão e Eva do paraíso porque passaram a saber, enquanto nós passamos a não saber, para que as palavras continuem puras, imaculadas, ou pelo menos para que nunca manipulemos o segredo. Mas como o ser humano sempre estar a abrir a caixa de Pandora conseguimos tirar o leite das palavras para fazer literatura. Como as palavras também estão para o homem, vão, elas mesmas, construindo tudo o que existe e nos usam, infantis que são, para que o verbo nunca deixe de existir. No princípio e para sempre será o verbo.
Sempre brinquei com a parábola de Adão e Eva, dizendo que qualquer pessoa que passa a questionar, a escrever, a buscar, é banida do paraíso (alegria, felicidade, paz ou qualquer dessas coisas), tal como eles foram.
ResponderExcluirBelo texto, adorei o blog e fiquei honrada pela sua visita ;)
=*
"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."
ResponderExcluirClarice Lispector