As Borboletas, quem as desenhou tão belas? Quem pôs motor em suas asas para que voassem nuvens adentro sem nenhuma preocupação com o que venha a ser a filosofia, os homens e as palavras? Quem sabe não guardam em segredo todas as preocupações e perguntas do mundo, que só poderiam caber mesmo na envergadura de suas estranhas e tatuadas asas a bater e voar para distâncias extravagantes? Na sua inconfundível grandeza como conseguem ser delicadas e tão pequenas?
Dias desses tive uma estranha alegria que só um nascimento poderia causar. Vi, com meu filho, uma Borboleta a se livrar breve e grave do casulo que não era mais ela mesma. Agora casulo era uma coisa, Borboleta outra, embora não soubessem antes o que era a vida de um sem tomar a vida do outro. Apartaram-se, não eram mais um. Havia borboleta dentro daquela casa? Haveria algo que não fosse borboleta antes daquilo? Onde está o relógio que diz que é hora de bater as asas e voar e ser borboleta?
Foi uma epifania. Um presente. Uma poesia. Não fora um animal que saíra de dentro da casca que a envolvia e insistia, já sem tanta esperança, e com muita saudade, antes de tudo, para que não fosse ser borboleta. Aquilo que vimos voar pela primeira vez era um ser alado, superior. O casulo, um invólucro, uma placenta, uma casca - fazia força para que a sua vida não acabasse ali. Inutilmente lutava contra o fim tão óbvio e tão certo.
E foi tanta a beleza que vira sair de si, que a Borboleta só poderia, a partir daquele momento, voar e ser Borboleta e ser colorida e ser para mim e para o meu filho um fato que presenciamos juntos e que traremos para sempre em nossa memória de mãe e filho: — Você se lembra daquele dia em que vimos nascer uma Borboleta? Nos diremos daqui alguns anos. E não nos deixaremos esquecer que uma borboleta nascera diante de nossos, talvez, imerecidos sentidos.
Ela ensaiava um bater de asas confuso que mais nos parecia um choro e depois de um choro, a única solução é nascer. E seu nascimento foi também nosso, pois que estamos a nascer e também a morrer a todo instante. Morreu a parte que em nós era virgem da experiência de ver uma Borboleta voar pela primeira vez, nasceu em nós aquela inolvidável imagem, nasceu em cada um de nós alguém que presenciou um feito extraordinário da natureza, não do acaso.
Linda, grave, silenciosa, e ao mesmo tempo ruidosa, lá se foi. Pura, merecendo receber outro nome, já que era tão singular. Suspiro. Escreva Borboleta com letra maiúscula. Se for púrpura, ajoelhe-se ao avistar uma.
Dias desses tive uma estranha alegria que só um nascimento poderia causar. Vi, com meu filho, uma Borboleta a se livrar breve e grave do casulo que não era mais ela mesma. Agora casulo era uma coisa, Borboleta outra, embora não soubessem antes o que era a vida de um sem tomar a vida do outro. Apartaram-se, não eram mais um. Havia borboleta dentro daquela casa? Haveria algo que não fosse borboleta antes daquilo? Onde está o relógio que diz que é hora de bater as asas e voar e ser borboleta?
Foi uma epifania. Um presente. Uma poesia. Não fora um animal que saíra de dentro da casca que a envolvia e insistia, já sem tanta esperança, e com muita saudade, antes de tudo, para que não fosse ser borboleta. Aquilo que vimos voar pela primeira vez era um ser alado, superior. O casulo, um invólucro, uma placenta, uma casca - fazia força para que a sua vida não acabasse ali. Inutilmente lutava contra o fim tão óbvio e tão certo.
E foi tanta a beleza que vira sair de si, que a Borboleta só poderia, a partir daquele momento, voar e ser Borboleta e ser colorida e ser para mim e para o meu filho um fato que presenciamos juntos e que traremos para sempre em nossa memória de mãe e filho: — Você se lembra daquele dia em que vimos nascer uma Borboleta? Nos diremos daqui alguns anos. E não nos deixaremos esquecer que uma borboleta nascera diante de nossos, talvez, imerecidos sentidos.
Ela ensaiava um bater de asas confuso que mais nos parecia um choro e depois de um choro, a única solução é nascer. E seu nascimento foi também nosso, pois que estamos a nascer e também a morrer a todo instante. Morreu a parte que em nós era virgem da experiência de ver uma Borboleta voar pela primeira vez, nasceu em nós aquela inolvidável imagem, nasceu em cada um de nós alguém que presenciou um feito extraordinário da natureza, não do acaso.
Linda, grave, silenciosa, e ao mesmo tempo ruidosa, lá se foi. Pura, merecendo receber outro nome, já que era tão singular. Suspiro. Escreva Borboleta com letra maiúscula. Se for púrpura, ajoelhe-se ao avistar uma.
"No mistério do sem-fim equilibra-se um planeta. E no planeta um jardim e no jardim um canteiro no canteiro uma violeta e sobre ela o dia inteiro entre o planeta e o sem-fim a asa de uma borboleta."
ResponderExcluirCecília Meireles
Oi, querida. Achei seu blog pq tentei o mesmo nome para o meu, daí fiquei curiosa.
ResponderExcluirAdorei o texto, parabéns! E estarei sempre por aki!
Bjs
"nasceu em cada um de nós alguém que presenciou um feito extraordinário da natureza, não do acaso."
ResponderExcluirBelíssimo...o deabrochar da borboleta é mesmo fascinante!
O livro está pronto querida, vou postanto...já cansei do mercado editorial...acredito na publicação virtual, afinal de contas, quem, além do P.Coelho&afins vive de literarura nesse país? Já não tenho essa pretenção...
um beijo!