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Mostrando postagens de 2010

Infância

O texto abaixo é um trecho de uma carta que fiz ao meu filho Ulisses (5 anos) Ser mãe é sentir saudade de um tempo que sequer passou. É ficar imaginando você e Marina adultos e saber que criaremos e manteremos muitos cordões pela vida agora - nossos olhares, sorrisos, dizeres, silêncios, abraços, beijinhos... Somos tão agarrados e sei que sua infância correrá tão logo, que não consigo me irritar com a bagunça deixada pelos seus brinquedos no quarto, ou mesmo em cima da minha própria cama. A distância entre nós já foi tão pequena, que você morava na minha barriga (como sua irmã Marina agora), depois, o cordão umbilical, depois o corpo durinho que já sentava e, por isso, já não se entregava completamente ao meu colo... depois engatinhou e nossa distância era o próximo cômodo da casa - ainda assim: "-Mamãe, vem achar Ulisses!"... e, putz! - Caminhou e agora somos atados pelas mãos - nosso segundo cordão umbilical. Os cachinhos negros, assim como o rostinho redondo e bochechudo d

A BOLSA E A VIDA

É bem possível traçar o horóscopo de uma mulher, ou até mesmo fazer-lhe um mapa astral, ou um profundo estudo sobre sua personalidade a partir da leitura da sua bolsa. Prá mim é bem mais eficiente do que a leitura da mão... Agora, saindo um pouco do geral, falo de mim. A minha bolsa me diz tudo sobre os meus momentos, e sempre que a organizo fico muito reflexiva. Isso é bom, a reflexão fazendo o caminho contrário, deixando de me atrapalhar quando quero agir... vindo depois da ação, depois do fato consumado. Eu nunca penso: “Hoje vou arrumar a bolsa!” Simplesmente a abro e mergulho na sua/minha história recente, geralmente das últimas semanas. Considero-me uma pessoa desligada, não lembro direito das coisas, de quando aconteceram se faz um, dois ou mais dias que aconteceram... com muita sorte sei (às vezes) que não foi hoje. Bem, voltando à bolsa: encontro tickets, cupons fiscais, guias de cartão de crédito, propagandas... coisas que podem e outras que não podem ir para o lixo. Numa bol

DIA DE BANCO

Quando for a uma agência bancária, blinde-se. Vá de corpo fechado. A blindagem fica mais por conta do ambiente, do que pela falta de segurança. Explico: nas filas você ficará sujeito a toda sorte de queixas, caras feias, empurra-empurra... as pessoas faltam rosnar e lhe morder as pernas. “Ei, por que ela passa na frente?”. “É atendimento prioritário”. “Hoje só tem prioritário! Que saco!” deixam escapar. “Eu tenho o que fazer – eu trabalho!”. O direito dos outros que se dane! É assim, barbárie mesmo, num ambiente supostamente civilizado e totalmente asséptico, as pessoas esquecem os limites entre elas e os outros. Noutras palavras, o nível de energia é tão negativo que você sente-se esgotado. As pessoas temem tudo: ser assaltadas, ultrapassadas, enganadas, estão com o desconfiômetro quase estourando. Em resumo: é um minitrânsito – só faltam as buzinas, pois que há atropelamentos e avanços de sinais. Nossa! Tome um banho de sal grosso ao sair de lá. Melhor, tome um antes e outro depois.

GALOS MODERNOS

Liquidificadores Buzinas Vozes Gritos Pés Motores Portões Manchetes No solo No ar Um nível além de tudo Barulho Galos? Conhecem galos? Talvez nas mesas Super modificados De vitaminas, hormônios Galo-bomba Galos cantores Não há mais espaço para galos que cantem as manhãs nossas de cada dia Temos fome de cantiga de galo Galos que nos acordem da monotonia dos dias Precisa-se de galos: vivos e cantores

Chorar

VOCÊ SE LEMBRA DA ÚLTIMA VEZ QUE CHOROU? Sibéria A adolescência é o fim da inocência e o começo de todas as vergonhas. Amizade adolescente é uma das mais intensas. Tudo é mais intenso. Você, por um lado, foge da pagação de mico de andar com os pais, mas paga o maior king Kong chorando por uma amizade que já não é mais a mesma. Aquela amiga ou aquele amigo não estão mais falando com você a toda hora. Isso dói muito e parece que nunca mais vai passar. Você chora, manda recados por colegas, faz greve de fome, cartinhas... e nada parece trazê-lo(la) de volta, demovê-lo(la) da ideia de não ser mais seu amigo(a). É assim, hoje me lembrei disso. Com o passar dos anos, vamos sendo tomados por um cinismo tão cru e tão forte, que até parece que nascemos assim. Não choramos mais por causa dos amigos que resolvem não mais sê-lo. E, se fazemos isso, mesmo na escuridão do quarto, morremos de vergonha. Na sentença “sou mais eu”, o paradoxo de saber, que naquele tempo, onde o eu não encontrava nenhum

Uma Palavra Chico Buarque

Palavra prima Uma palavra só, a crua palavra Que quer dizer Tudo Anterior ao entendimento, palavra Palavra viva Palavra com temperatura, palavra Que se produz Muda Feita de luz mais que de vento, palavra Palavra dócil Palavra d'agua pra qualquer moldura Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa Qualquer feição de se manter palavra Palavra minha Matéria, minha criatura, palavra Que me conduz Mudo E que me escreve desatento, palavra Talvez à noite Quase-palavra que um de nós murmura Que ela mistura as letras que eu invento Outras pronúncias do prazer, palavra Palavra boa Não de fazer literatura, palavra Mas de habitar Fundo O coração do pensamento, palavra

"José, para onde?"

Num momento ponho todas as flechas apontadas num só ponto. Noutro, jogo todas elas no chão e vou embora. Estou surdo e sei que não valiam nada. Acordo. Estou a procurar flechas no chão, nos ares... me desespero em saber que podem ser de alguém, não minhas. Crio novas. Desenho, moldo, e tento esculpi-las como se a mim mesma estivesse fazendo. De novo. Flechas nas mãos e na alma toda. Onde é o alvo agora? Não existe alvo, mas alvos, e tudo é confusão como noutro dia, como no começo de tudo: branco ou preto? Fútil ou útil? Grandeza ou pequenez? Não lido bem com perguntas tão diretas. Não lido bem com direção. Qual direção das flechas? Fecho os olhos, disparo-as no ar e não consigo mais abrir os olhos para saber onde estão. Para onde foram novamente? Atiro flechas ao ar, não a alvos. E o vento, senhor das direções, joga-as aonde quer, penteia os cabelos meus e dos coqueiros e joga palavras ao além, junto às flechas que lancei. Apanho-as do chão. Estão mortas. Não querem ir a lugar algum on

Sem título

Por: Sibéria Meias arrastão pra te impressionar Lábios de carmim para te beijar Risos de champanhe para te humilhar A moça não quer ser moça Quer ser lady Nas madeixas tenho a força Para o que quiser Agora me deixa Que quero sofrer Para a poesia poder existir Não posso ser moça, Nem branca, nem pálida, nem de neve Quero a dor Só com ela se conhece o que é amor Amor não é o que está nos folhetins Amor está mesmo é naquele jeans Que uso apertado prá te sufocar Amor está mesmo nos sapatos altos prá te alcançar Amor está, verdadeiro está, nas lágrimas que amargas hão de rolar Quando me disseres, como os outros, Que já não vai dar, meu amor Não vai dar valsa, Vai dar uma música qualquer Que pelo sofrimento vai me afirmar como uma mulher.

Falha folha branca

Sibéria O poeta sofre A folha em branco Como se branca Fosse a vida Toda Escreve datas Garranchos Seu próprio nome E vai Desenhando a folha No exercício confuso Da beleza de ser Poeta Uma palavra: E basta, Para que tudo Ache sentido e forma e cor Mas não qualquer palavra Ou mesmo qualquer uma, só que agora: Ventilador, fósforo, janelas... Desde que se abram Todos os sentidos. A folha branca A cara branca A roupa branca Esperam a palavra Que vá manchar-lhes a Tediosa brancura O poeta sofre com a brancura das coisas.

SINAIS DE QUE ESTAMOS ENVELHECENDO

Estão fazendo “remake” de tudo que marcou um tempo que até hoje você não sabia que havia passado: das roupas, dos acessórios, das bandas, das novelas, das cores, dos carros... Obviamente você detesta alguns, principalmente os das bandas e diz: “Nunca mais um Cazuza!”, “Nunca mais um Renato Russo”... e muitos garotos(as) de 15 anos olham pra você e dizem: “Quem?”. Bem, a música é por onde eu gostaria de começar porque sou uma criatura muito musical, mas, mesmo assim, não sei se estou ficando exigente demais (ou rabugenta mesmo), mas tenho pouca paciência para ouvir músicas novas. Parei no tempo, quase totalmente, no sentido musical. 90% das músicas que ouço hoje são as mesmas que ouvia há dez, quinze anos. (Outra mania de adulto: ficar apontado porcentagens... um saco!) Como nossos pais, achamos que todas as “bandinhas” (e assim fazemos questão de chamá-las) são iguais. Que Restart, Jonas Brothers, RBD, Justin Bieber, NX Zero, são a mesma coisa. Achismo que pode nos custar o rótulo de “

CHEGAR CEDO

Não sei de onde, desde a infância tenho verdadeira mania por chegar cedo. Minha mãe me ajuda a construir a imagem que carrego de eu sempre chorar quando me atraso em algum compromisso. Lembro perfeitamente, das poucas coisas que lembro da minha distante infância, de como eu chorava e me desesperava por chegar à escola mais tarde. Nossa! Era um tormento. Talvez lembre assim tão bem, porque é exatamente assim que me sinto até hoje quando não chego cedo. Experimento de uma deliciosa, diria até orgástica, sensação cada vez que chego um pouco mais cedo. Isso é um paradoxo, pois, por outro lado, sou uma pessoa que atesta não ter paciência para esperar. E, embora não gostando, acho que talvez eu seja a pessoa que conheço que mais espera. Pois dei na “sorte” de conviver com pessoas que adoram que eu espere. Minha família toda é assim – ou talvez, porque sou a primeira a chegar, ou a estar pronta, sou eu também a que sempre espera. Paradoxal, não? Será que tenho pressa? Será que no fundo eu gos

Pose para foto

Cada dia tem sido mais difícil escrever alguma coisa no blog. Alguém deve ter reparado. Não. Não é falta de tempo, muito menos de palavras. Eu pensei em deixar de escrever aqui, talvez eu o faça com o passar do tempo. E se até agora eu escrevi é porque a escrita é o que me pega e faz de mim o que quer e também porque sempre adorei diário. Só há um detalhe: o diário era meu. Só meu. E não o que hoje tentamos fazer - Blog, blogar, essa linguagem toda nova. Ai, me senti agora com oitenta anos! Sim, já passaram alguns anos que fui adolescente. Não vou fingir que entrei nessa de blog sem saber, pelo contrário: a minha autoproposta era conseguir me mostrar - o que tem sido a minha vida inteira meu "calcanhar de Aquiles". O que mais me agradou na ideia do blog foi o fato de que as pessoas que o lessem seriam pessoas desconhecidas (presencialmente falando), o que tiraria bastante carga do teor "diário" desta escrita. Mas a verdade, depois dessa fase de tamanha tentativa de

Do it yourself

Há algum tempo venho insuspeitavelmente vivendo o "faça você mesmo" (interessante, pode ser entendido "faça a si mesmo"), é, pode ser. Mas, neste momento, tenho quase uma idéia fixa ("Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa!" - Brás Cubas). Pois é, tenho de admitir, tenho uma idéia fixa e não quase uma: Se você pensou - costurar - acertou! Quero aprender a costurar. E sei que vou. Falta-me pouco (rsrsrsrsrs) só fazer a matrícula num curso, comprar uma máquina de costura... ou seja, arranjar tempo e dinheiro para tanto. Mas é uma questão de... como eu diria... investimento! Não desses com retorno financeiro, mas com o seguinte retorno: Ouço pássaros cantando? Sinto borboletas nos meus ombros? Filho, é a sua cara! Que tal um café, amor? Umas roupitchas também, que não sou de ferro... Mas podes perguntar: E daí, por que não comprar isso tudo? Ou já supõe que estou querendo economizar... brincadeirinha! Mas a questão vai além disso. É carinho, é memória.

Borboletas?

As Borboletas, quem as desenhou tão belas? Quem pôs motor em suas asas para que voassem nuvens adentro sem nenhuma preocupação com o que venha a ser a filosofia, os homens e as palavras? Quem sabe não guardam em segredo todas as preocupações e perguntas do mundo, que só poderiam caber mesmo na envergadura de suas estranhas e tatuadas asas a bater e voar para distâncias extravagantes? Na sua inconfundível grandeza como conseguem ser delicadas e tão pequenas? Dias desses tive uma estranha alegria que só um nascimento poderia causar. Vi, com meu filho, uma Borboleta a se livrar breve e grave do casulo que não era mais ela mesma. Agora casulo era uma coisa, Borboleta outra, embora não soubessem antes o que era a vida de um sem tomar a vida do outro. Apartaram-se, não eram mais um. Havia borboleta dentro daquela casa? Haveria algo que não fosse borboleta antes daquilo? Onde está o relógio que diz que é hora de bater as asas e voar e ser borboleta? Foi uma epifania. Um presente. Uma poesia.

DEVANEIOS E POLIVERDADES

Não há verdade única morando dentro dos prismas do que existe, pois existir é ser múltiplo, o que quer que exista: de um dinossauro a uma flor no nosso jardim. O que olhamos não se deixa empobrecer pela unicidade que tentamos imprimir àquilo que vemos. Por felicidade e pela mão divina que trazemos em nós nada será único, de um lado só, porque tudo carece o outro lado, a simetria perfeita ou imperfeita haverá de nos mostrar o lado feminino no homem, o lado arrebatador das enchentes e marés. De momentos de pura inspiração e de sintonia com tudo o que existe extrairemos dos extremos o caminho do meio, aquilo que não se define como dentro ou fora, claro ou escuro, bem ou mal; ao contrário do que imaginamos não procuramos a definição deste ou daquele lado, mas procuramos o que não temos palavras para definir, procuramos o que está entre, na travessia, como observou Guimarães Rosa. É no caminho do meio, na travessia que escrevi(o) estas palavras, na busca de evitar as classificações exatas,

RESULTADO DO PRÊMIO SESC DE LITERATURA 2009

RESULTADO DO PRÊMIO SESC DE LITERATURA 2009 >> DESTAQUE Novos talentos revelados A graça, a leveza e o bom humor de um papagaio erudito e irônico foram os principais e criativos recursos narrativos de Gabriela Guimarães Gazzinelli, de Minas Gerais, para obter o Prêmio SESC de Literatura 2010 na categoria romance. A jovem de 28 anos, com formação em Letras e Filosofia, foi escolhida pela comissão final do concurso, com Prosa de papagaio, dentre 44 romances pré-selecionados pelas subcomissões julgadoras. A comissão final foi formada pelos escritores Ana Miranda e Luiz Ruffato: "O romance mantém o fio narrativo, apresentando uma trama linear, porém com liberdade temática, que se passa no seio de uma família construída dentro de características contemporâneas", afirmam os jurados, no parecer que anuncia o vencedor. A categoria contos teve como vencedor Sérgio Tavares, de Niterói, Rio de Janeiro. Abordando a imbricação entre loucura e sexo em quatro longos contos, o jornalis