Minha cabeça não é muito boa. Ela me engana a qualquer
deslize, a qualquer tempo em que preciso de juízo. Minha cabeça me faz passar
vexames por não dar conta de que dia ou hora é hoje ou ontem ou amanhã. Ela não
está preparada, e talvez nunca estará, para a vida prática, de ajuntamentos de
informações e dados ou datas, sempre elas, as datas... a se desencontrar de
mim. Nela, na minha cabeça, esqueci (ou esqueceram, não sei) de marcar os dias
das coisas e, assim, me esforço quase heroicamente para responder que dia é
hoje? Quando é tal dia? Quando foi o último feriado? Quando... quando...
quando... é tanto quando interrogado na minha vida, que me dá uma agonia. Eu vivo
num branco, aonde minha cabeça me levou e leva. Sem saber me preocupar que dia
será o fim do mês, do gás, da luz, da água ou do telefone. Sou uma
irresponsável sem causa e sem chance de cura, mas com sofrimento. Eu sofro
quando a enxurrada me atinge em cheio, impiedosa vida que me cobra o que minha
mente não alcança. Minha cabeça brigou com meu coração. E meu corpo só atende à
(des)razão da minha desordem mental. Minhas
pernas e braços não atendem meu coração que quer cuidar, que quer ir aonde sou
chamada a estar. Um dia achará minha cabeça a corresponder os (des)mandos do
meu coração? E ordenará ao meu corpo inteiro a saber que dia é hoje? Que hoje é
dia de vacinar Dora. Que hoje é dia de pagar o telefone. Que hoje é dia de
matricular as crianças. Que hoje é dia de levar a câmera do conserto. Que hoje
é dia de estar pronta às 6:30 e de ir não sei para onde, para o raio que me
parta, mas para algum lugar que já agora minha cabeça não me permite saber...
Hoje é dia de lavar as fardas das crianças, de comprar suas frutas, de fazer
planos e depois, fatalmente, esquecê-los todos e deixar todos para outro dia,
que fogem ao calendário racional, que se junta a tantos outros pontos de
interrogação pela vida futura e incerta. Sim, mas que dia é hoje mesmo?
LIVRANDO-SE DE CALCINHAS “UM POUCO VELHAS” “Sujo atrás da orelha, Bigode de groselha, Calcinha um pouco velha Ela não tem” (Chico Buarque/Edu Lobo. Ciranda da Bailarina) A partir desses versinhos, lindamente interpretados por Adriana Partimpim (heterônimo da Adriana Calcanhoto para crianças), surgiu, numa roda de meninas-não-bailarinas, onde, felizmente, eu estava, um assunto que me chamou atenção. “Isto merece um texto!”. Ei-lo! A pergunta é a seguinte: o que fazer com calcinhas velhas? Daquelas mesmo que estás pensando nessa sua cabecinha, aquelas... que todas nós tivemos, temos e teremos, em algum momento da vida – se Deus quiser! Calcinhas um pouco velhas sempre estarão nas nossas gavetas. E como teremos rituais e alguma dificuldade para jogá-las fora! Conversa vai, conversa vem... fui ouvindo depoimentos tão curiosos que me arrepiei ao pensar no quanto estávamos desfrutando de tamanha intimidade naquele momento. Eu também tive a minha hora de confessar o que costumava fazer com ...
Ih, amiga, se há sofrimento na desordem mental, e digo de cátedra, que também há no excesso de ordem da mente que sabe o dia e a hora pra tudo, e que quer comandar e atender a todos esses mandados.
ResponderExcluirAcho que o desmando determina mais leveza, continue assim: leve.
Obrigada, Amanda. Você é uma amiga muito atenciosa e dedicada, com desordem ou com ordem, amo-te muito!
ExcluirMuito bom texto, li várias vezes ;]
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