Pular para o conteúdo principal

Num tem mais matuto, não!

Matutos do mundo todo, encangai-vos!

(Por Sibéria de Menezes)

Não se engane, cosmopolita vindo de qualquer lugar, vez por outra, seremos capazes de uma incrível “matutagem”. Desobrigue-se de saber de tudo, bichim. Eu sou dada, naturalmente, a atitudes bem matutas: parar em frente a escadas rolantes pensando se arrisco-me ou não, olhar como os outros se comportam no McDonald's, achar esse negócio de fast food uma coisa horrível de se comer... entre outras atitudes e gostos.
Pois bem, estava eu (e minha irmã) no Parque de Exposição do Crato, no ano passado (2012), me achando quase uma nova iorquina, comprando um centro de madeira lindo para a minha casa. Eis que... percebi que não havia levado o tal do cartão de crédito. No seu lugar, só aquele cartão que costumo de chamar “cartão de tirar o dinheiro do banco”. E agora? Com aquela astúcia que só coube a mim, tive imediatamente a seguinte ideia (detalhe, em pleno meio-dia): “Vou ao banco, faço um saque e volto para comprar a mesinha, viu, moça? Separe aí que volto já com o dinheiro”.
Sem querer ser desagradável, a moça dirigiu para mim uma expressão que só se faz frente a um matuto, um misto de pena com uma vontade desgraçada de rir. Me falou, tentando confirmar o cartão que já vira em minha mão: “Você está com o cartão aí?”. E eu: “Naturalmente, volto já já, viu?”. Ela, então, começou a entender o que estava acontecendo e, claro, começou a rir também. “Pois me dê aqui que eu passo o cartão no débito”. E eu insistia: “Não, esse meu cartão não passa não – é só para uso no banco.” A essa altura, minha irmã já estava fingindo que não me conhecia e assoviando, olhando outras coisas no estande. Mas aí, o sangue falou mais alto e ela resolveu me tirar da saia justa: “Entrega logo esse cartão, mulher”... sussurrou, rindo para a vendedora e entregando-lhe, sorrateiramente o meu “cartão do banco”.
Peço perdão, agora, aos matutos: não foi matutagem não, foi leseira mesmo! Há dez anos eu tinha o tal do cartão, no qual está escrito: “débito”. Eu lá ia saber o que significava isso? Sei que jamais o havia usado para este fim – fazer compras. Nesse momento de epifania, a moça e minha irmã, às gargalhadas me passavam a maquineta para que eu digitasse a senha. Ao que, só eu mesma, poderia perguntar uma coisa assim: “Eu digito qual senha? A mesma que eu uso no banco?”. Acredito que é por isso que seu Lunga existe, para o povo deixar de ser burro e perguntar besteira. Definitivamente, minha irmã, me deu o beliscão que eu precisava para acordar: “Mas é claro! Digite logo essa senha, leseira, e vamos embora daqui!!!” E como matuto que é matuto mesmo morre de medo de “se passar”, digitei a senha e jamais pude esquecer – tal cartão também faz compras, o danado! Mas, confesso, nunca mais quis usá-lo com medo de que alguma coisa dar errado.
Veja bem, se você já passou por uma dessas (o que duvido um tantinho assim), não se preocupe, faça cara de que foi tudo uma brincadeira, não dê desculpas (isso é MUITO importante!!!) e vá ser matuto assim Brasil afora.

Comentários

  1. Kkkk. Não duvide, Siberia. Ja passei por isso, amos usando o cartao so pra sacar diretamente no caixa. Matuta, do interior de Baixo Guandu. Kkkkk bjs

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

LIVRANDO-SE DE CALCINHAS-UM-POUCO-VELHAS

LIVRANDO-SE DE CALCINHAS “UM POUCO VELHAS” “Sujo atrás da orelha, Bigode de groselha, Calcinha um pouco velha Ela não tem” (Chico Buarque/Edu Lobo. Ciranda da Bailarina) A partir desses versinhos, lindamente interpretados por Adriana Partimpim (heterônimo da Adriana Calcanhoto para crianças), surgiu, numa roda de meninas-não-bailarinas, onde, felizmente, eu estava, um assunto que me chamou atenção. “Isto merece um texto!”. Ei-lo! A pergunta é a seguinte: o que fazer com calcinhas velhas? Daquelas mesmo que estás pensando nessa sua cabecinha, aquelas... que todas nós tivemos, temos e teremos, em algum momento da vida – se Deus quiser! Calcinhas um pouco velhas sempre estarão nas nossas gavetas. E como teremos rituais e alguma dificuldade para jogá-las fora! Conversa vai, conversa vem... fui ouvindo depoimentos tão curiosos que me arrepiei ao pensar no quanto estávamos desfrutando de tamanha intimidade naquele momento. Eu também tive a minha hora de confessar o que costumava fazer com ...

A palavra Mãe

Mãe, palavra que cria o mundo. Mãe é o substantivo mais adjetivo que existe.   A palavra mãe simboliza um algo a mais, incabível no nome em si, por isso, para mim, pertence a duas classes gramaticais – é substantivo e adjetivo. Mãe, adjetivo, é palavra que qualifica o ser. Quando digo e ouço “mãe” toda a ternura do mundo vem a minha boca, entra pelos meus ouvidos. Parece um abraço caloroso e mãos leves. Mãe pode significar carinho, saudade, zelo; também como para mim significa carinhosa, saudosa, zelosa... o nome e o adjetivo cuidam em estar tão juntos de nunca se soltarem. Mãe é uma lente de aumento. Intuitivamente, as mães estão sempre um passo a frente dos filhos; mãe é mãe mesmo quando não dá à luz um ser; assim ela muda a construção da regência para dar luz a um ser – mãe é luz. Generosa, dá luz e dá à luz. Mãe é coisa de Deus. Mulher nasce com a marca de ser mãe, é visceral, e, quando o ventre não conjuga o verbo gerar, a mulher, facilmente, torna-se mãe da mãe, d...

Corpo Alvejado

Quando uma flecha perfura um corpo Provoca duas dores: Uma quando atinge a carne, Outra quando retirada dela No intervalo das duas dores Há o silêncio daquilo que sangra Feito de agonia e medo Para sobreviver É necessário retirar a flecha Mesmo que doa Mesmo que sangre Mesmo que isso não seja garantia de vida Destaca a flecha Mune-te de coragem Atende ao instinto de viver Retira a flecha Que te paralisa Que te sufoca Que te faz temer os seus próprios movimentos Livra-te da agonia de viver entre quase-vivo e quase-morto Retira a flecha Cravada desde tanto tempo contra ti Não seja o corpo da flecha Não seja o corpo onde mora a flecha Seja teu próprio corpo Sem flecha Sem a dor do medo Coragem! Retira a flecha (CORPO ALVEJADO. Sibéria de Menezes) ❤📝 #LuzSobrePoesia #CorpoAlvejado #RetiraAFlecha #EndurecerSemPerderATernura