Por Sibéria de Menezes Carvalho
Chegando em casa, minha Marina (1ano e 5 meses) respondeu a
uma pergunta que eu fiz com um sim, balançando a cabecinha pra cima e pra
baixo, com um alto grau de concentração e certeza do que estava dizendo – e,
claro, com um esnobismo de quem sabe o quanto eu estava impressionada com
aquilo.
Bem, corujices de lado, fiquei reflexiva depois. Até agora
só sabia a pequena dizer não: de formas variadas, até. Pensei no quão é importante que os filhos
aprendam, sempre, não só com a gente (os pais), mas com o mundo. E fiquei me perguntando: por que só a ensinei
a dizer não? Essa questão mexeu comigo. E é bom que mexa. O que mora em mim
como indivíduo e como mãe que está tão preocupado em negar (ou se negar)? Óbvio
que há os nãos fundamentais nessa fase: tomada, não; chão molhado, não; subir,
não; botar na boca, não. Por outro lado, será nosso papel dizer não o tempo
todo? Por que não atirar o controle remoto ao chão algumas vezes ao dia? Por que
não derramar todos os brinquedos da caixa de uma vez? Por que não subir
no sofá de quando em vez? Por que não deixar chorar até cansar? Por que não
doces e guloseimas?
A infância é um território sagrado. É, de longe, o lugar
onde a fantasia deixa a realidade a comer poeira. É o paraíso que vamos
perdendo aos poucos. Tão de leve, tão de leve que quando percebemos, já somos
capazes de dizer que já não somos crianças. E lá somos tão felizes que não
sabemos que somos; é a felicidade em estado puro; quando sequer nos damos conta
de que somos felizes. Nem nos importamos se a brincadeira está perto de acabar.
Queremos apenas brincar e quando chegar a hora de parar, apenas caímos no choro
e dormimos e amanhã não teremos medo de brincar de novo.
Sim, filhos, comam algumas porcarias de vez em quando, sujem
a casa quando chegarem, baguncem o quarto sem nenhuma responsabilidade, fiquem sem
as principais refeições... mas só algumas vezes. Só enquanto um sim dá sentido
aos nãos. Só enquanto uma coisa equilibra a outra. Só por enquanto. Momentos em
que de tão crianças, tão-somente desejam abraços, beijinhos, correr, suar,
despentear-se, sem jamais se preocuparem com coisa alguma. Haverá o tempo
disso: do horário, da responsabilidade, da rigidez. Como há agora o tempo de
agora.
Crianças que me ensinam o poder do sim, balançando a
cabecinha pra cima e pra baixo, me perguntando o porque de tantas coisas, de
ficar quieto, de ficar calado... com reivindicações e afirmações do tipo: “não
posso fazer nada que quero!!!!”; obrigada por me dizerem SIM.
Impressiona-me, quando leio suas crônicas, e fico pensando: Quem se sobressai- a cronista ou a contista ? Acho que as duas. PARABÉNS e continue nos deliciando com o nosso cotidiano que, de tão simples e óbvio, muitas vezes , deixa de ser matéria literária. F.Queiróz
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