Saudade é um sentimento que só faz mudar de lugar. Eu sou alguém que vive sentindo saudade: de um cheirinho de café no ar, de um pensamento, de um sentimento, de pessoas, de lugares, de roupas... enfim, a saudade me chega nos cinco sentidos.
A saudade é. Só muda de lugar. Às vezes saudades nas mãos, nos braços, na boca, no estômago, nos cabelos, nos pés. Não me resta - como um ser que está na condição tempo-espaço -, outro sentimento a não ser uma saudade.
“Tá na hora de entrar, filha!”
“Esse calçou direitinho”
“Telefone!”
Frases soltas e cheias de sentido me fazem sentir saudade. Dos objetos que já tive: um par de meias, a TV preto e branco, aquele tempo em que imaginava quando fosse adulta.
Saudade das calças jeans grandes e largas da minha mãe – eu com oito anos – de ser pequenininha em relação aos outros. De perder tardes brincando com minhas irmãs, debaixo de um lençol preso às cadeiras da sala de jantar – nossa barraca do Saldanha.
Sempre senti saudade. Ela só ia mudando de lugar: do ano velho para o novo, da casa velha para a nova, da roupa velha para a nova... tudo novo me dava saudade. Não logo, mas depois de um tempo. Um tempo sem ver, sem ouvir, sem tocar, sem sentir. “Sem rir, sem falar”... parte da cantiga de roda em que se batiam palmas.
Saudade das nossas noites em que saíamos sem ter hora pra voltar... saudade de quando as horas pra voltar eram chegadas e o celular tocava: “Ulisses tá chorando, venham buscá-lo!”. Das primeiras cólicas, dos primeiros banhos. Mesmo com a pequena Marina, ainda sinto saudade. Cada filho é único.
Tenho saudade deles como se já estivessem por aí.
Saudade do calor da fogueira de São João, da minha mãe a me pegar no colo e me colocar na cama; do meu pai chegando em casa morto de cansado e assoviando canções de tão longe... saudade da meninada da rua, jogando bola, fazendo algazarra, sem saber e sem querer saber que um futuro nos esperava...
Continuo tendo saudade, de coisas diferentes, mas cada dia um pouco, às vezes um pouco demais. E acho que jamais estarei curada disto. Mas não é ruim, é bom. É muito bom.
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