"Entre! Não repare a bagunça!" Reparar também quer dizer "consertar, restaurar, recuperar, corrigir, dar proteção a si mesmo, abrigar-se." Reparar, no sentido de quando recebemos visita inesperada, quer dizer notar, observar, ver, olhar.
Eu digo pra mim mesma:
- Entre, moça! Repare a bagunça!
Repare-se, nos dois sentidos: note-se, observe-se, conheça-se, veja-se. Depois, e ao mesmo tempo, repare-se, vá cuidando das bagunças, tirando as tralhas, reorganizando os sentimentos, as prioridades, as luzes e as sombras.
Eu abro cuidadosamente, e não sem medo, as gavetas escuras da alma. Eu bato às portas há muito trancadas. E o medo vai dando lugar à coragem. Havia demasiado "eles" no meu eu. Vou destravando os silenciadores que carrego há tanto tempo... e de falar em falar, de escrever em escrever, vou abrindo grande espelho. Entro e reparo o que há para reparar. Quanto ao irreparável, está deitado ao chão, e escorre como leite derramado. E eu aprendo a dizer: "Paciência!" ou "Dane-se!" ou simplesmente a ignorar... Entro. E por entrar, eu vejo. Estou aqui. Irremediável como uma palavra dita. Mas recuperável como uma criança forte.
Eu entro
Eu me reparo-vejo
Eu me reparo-recupero
Estou presente.
(Sibéria de Menezes Carvalho)
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