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MÃE-OUVIDO

Sibéria de Menezes

Com suas vozes de criança, as minhas crianças, falam muitas vezes ao dia “mamãe”, pra quase tudo: “mamãe”. Como se me dissessem: “Estou aqui.” Eu ouço mais os meus filhos do que os vejo, de maneira que eu os percebo primeiro pelos ouvidos. Sou uma mãe-ouvido desde que os ouvi pela primeira vez. Eles dizem “mamãe” e imediatamente eu compreendo o sentido da minha vida, o maior deles. “Mamãe”, e eu dou graças por poder ouvi-los e estar junto deles para vivermos um amor ouvido e falado. O modo como eles me afirmam como mãe, ao pronunciar esta palavra-mágica, dá-me a certeza da maternidade, no meio de tantos questionamentos que me faço como mãe. Quando me dizem mãe, a cada vez, me fazem mãe novamente. Na verdade, eles invocam a minha parte-mãe, o que me leva a quase compreender o todo-eu.
Com suas vozes de criança e tudo o que neles há de criança renovam minha vida, participam-me de uma nova existência, de uma vida que se (re)constrói a cada instante no segredo das palavras que me falam.

“Mamãe!”. E envolvem-me na “licença poética” de ser mãe. E nada me socorre mais do que quando minhas crianças me chamam. Porque me querem perto, porque me querem abraçar, porque querem fazer um lanchinho ou beber água. Porque querem que eu veja o que descobriram, o que estão vendo, o que estão fazendo. Porque quando me invocam, querem, mesmo sem querer, que eu me saiba amada, que eu me saiba mãe, que eu me saiba grata pela vi(n)da deles. Porque querem que eu saiba, todas as vezes, que sou sua mãe. Filhos, renovem-me sempre e a todo instante nessa palavra; e digam muitas vezes ao longo do dia: “Mamãe!”.

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