“O senhor… mire, veja: o mais importante e bonito, do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam,
verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.“
Guimarães Rosa
Mire e veja
Se naquele lugar onde dói
Existe uma dor.
Pensa nela
Esteja com ela
Chora com ela
E depois
Mire e veja
Ouça e sinta
Descobre que há um medo
Por dentro do medo
Por trás do medo
E no centro do medo.
Quando achá-lo
Se achá-lo, se é que é possível...
O medo estará bem guardado
Numa coisa à toa, por assim dizer
E, por isso, em toda parte
Mire e veja
Não será limpo
Será duro estar com ele
Corre o risco de botar tudo a perder
Role com ele pelo chão
A luta é dura e sangrenta
Rosne e morda
Aja como um mau menino
Esteja com ele por algum tempo
E depois,
Liberta-se dele
Mata esse medo
Que te dá olhos cansados
E febre no coração
Ateia fogo
Ateia lágrimas
E alguns suspiros
Mas
Mire...
Veja...
Volta os olhos ao serviço de mirar
E de ver
Ponha o dedo sobre a ferida
E a maltrate
Espreme a chaga que te inflama
Sem dó
E só com um pouco de autocomiseração
Mire e veja
Fora do medo há tudo o que existe
Contempla o sentimento pela (provisória) última vez
E vai, sem olhar pra trás.
Sibéria
Comentários
Postar um comentário