Arrumar uma mala é começar uma viagem. Às vezes é para perto, para longe, mas sempre para algum lugar ou condição nova. Nossa viagem começou há nove meses e agora estamos prontas para uma nova estação. Nós vamos chorar (prá variar) e a única coisa que vai interessar no mundo é que estejamos bem. Nossa família toda te abraça, te deseja... e o milagre da vida vai continuar acontecendo dia após dia, para todos nós. Seu irmão já se acostumou ao seu nome, imagina brincadeiras, passeios e festas para os dois. Seu pai, esse nem se fala, canta sua música a toda hora e quando diz seu nome faz quase uma reverência a sua nova parte no mundo. Quanto a mim, Marina, tento me acostumar com a multiplicação de mim ao tentar não sofrer pelo fato de, a partir de agora, termos duas malas. Uma minha, uma sua. Assim como foi com Ulisses. Minha parte no mundo e uma parte dos meus dois filhos lindos e amados. O velho paradoxo da maternidade: a gente quer que eles fiquem e quer que partam: somente para serem felizes. É Marina, agora enquanto faço nossas malas é difícil não observar a matemática dos dias seguintes: uma mala grande, cheia de coisas de mulher-mãe e uma pequena, clarinha, com coisas de uma menina que vai ganhar o mundo a qualquer hora dessas. Minha pequena, deveria existir uma mala-canguru que nunca se apartasse uma da outra e que nunca se definisse em dois volumes, assim como você e eu somos agora. Essa mala existe. Existe mesmo: quando dentro dos teus canais corre o meu sangue. Quando, mesmo ainda não a tendo visto, sei que no teu corpinho tão pequeno e frágil vai se declarar qualquer coisa minha: ou os cabelos, ou os olhos, ou a boca, ou o sorriso... vai surgir meu ser em ti. Eu sou em ti, eu sou no teu irmão e não existe outra forma de ser desde que Deus me deu essas duas “coisinhas de Jesus” para tomar conta e para chamar de filhos. Um menino, de seis anos já, uma menina que virá à luz a qualquer instante desses. Primeira estação, Marina, agora venha à luz do dia e da noite, agora venha à luz da vida aqui fora. Venha conhecer os teus. Vem conhecer o leite, o colo, o teu nome, o aconchego dos braços dos que te amam e te esperam. Vamos arrumar as malas, Marina. Que agora começa uma incrível viagem!
Mãe, palavra que cria o mundo. Mãe é o substantivo mais adjetivo que existe. A palavra mãe simboliza um algo a mais, incabível no nome em si, por isso, para mim, pertence a duas classes gramaticais – é substantivo e adjetivo. Mãe, adjetivo, é palavra que qualifica o ser. Quando digo e ouço “mãe” toda a ternura do mundo vem a minha boca, entra pelos meus ouvidos. Parece um abraço caloroso e mãos leves. Mãe pode significar carinho, saudade, zelo; também como para mim significa carinhosa, saudosa, zelosa... o nome e o adjetivo cuidam em estar tão juntos de nunca se soltarem. Mãe é uma lente de aumento. Intuitivamente, as mães estão sempre um passo a frente dos filhos; mãe é mãe mesmo quando não dá à luz um ser; assim ela muda a construção da regência para dar luz a um ser – mãe é luz. Generosa, dá luz e dá à luz. Mãe é coisa de Deus. Mulher nasce com a marca de ser mãe, é visceral, e, quando o ventre não conjuga o verbo gerar, a mulher, facilmente, torna-se mãe da mãe, dos i
Que lindo! Que Marina traga mais beleza ao mundo. Precisamos.
ResponderExcluirBeijos e boa hora!
Puxa amiga que lindas suas palavras,tão intensas e verdadeiras que chegaram a emocionar.Amei.
ResponderExcluir