Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de julho, 2016

Meu avô

Eugene Boch. Vincent Van Gogh. 1888 Eu não tive experiência de ter avó. A isso eu credito algumas dificuldades que tenho na vida: como de não saber direito se (ou quando) devo fazer birra e me jogar no colo de alguém, em prantos ou em felicidade.  Eu tive um avô. Não aquele avô inteirão, mas um homem já gasto pelo engenho da vida. Eu julgo que ele sentisse mais falta de minha avó do que eu, q ue nunca a tive.  Meu avô parecia triste. E as lembranças que tenho dele são distantes, como são todas as lembranças da minha infância.  Porém, hoje, dia consagrado aos avós, absorta estou na memória de sua ternura, de sua paciência, de seu modo singular de dar afeto: compartilhando memórias de uma juventude distante, nos subornando com biscoitos e beijus de feira, e fazendo de conta que nos cuidava, quando, na verdade ele estava sendo cuidado.  Meu avô foi o avô que podia ter sido. E foi. Com sua cadeira de couro, seu chapéu de palha, seus olhos profundos e seu sorriso quase

Céu estrelado

Retirada do deserto

Eu atravessei um deserto Com toda a nossa intemperança Minha e do deserto  Instáveis  Movediços Desreferenciados. Dele saí Quando pude entender Que dentro de mim Ao redor de mim Acima da minha cabeça E abaixo dos meus pés Um deserto eu criara Quente e frio. Eu desertei-me Num mar de areia onde afundava A vida. Eu atravessei um deserto Ele também me atravessou E fomos embora um do outro Com valiosas lições E sem saudades. (Sibéria de Menezes Carvalho)